E, de repente, ganharam
vida os diálogos de primavera. Encontrei-os na última página de um inverno sem
pó. Aquela onde só se guardam os dias sem truques e as promessas que dizem futuro. Os finais felizes que queremos sempre ler, sabes? Lembro-me bem. Foi mesmo
antes de nascer o dia (e tudo o que com ele amanhecia). Escaparam das gavetas
que abrimos contra a tirania do vento e em batalha com a chuva. A estratégia
era clara: tinham os olhos bem assentes no céu e o tacto bem colado à pele. Moviam-se na esperança de repetir tudo o que o
corpo se lembra, sabes? Mas não foi por acaso que
fugiram, os diálogos. Sim, porque até a primavera tem hora marcada no relógio. Mas
não aquele que veste o sobressalto do pulso, não. É naquele que só trabalha ao
som dos pássaros, sabes? De todas as horas que os
ponteiros escrevem, esta é a que os diálogos de primavera esperam. É nela que dizem,
entre si, todas as palavras que se guardaram no frio. As que viajam por terra e
descobrem todos os segredos dos mapas. As que desenrolam peões e andam à roda
com as memórias. As que contam os amores e bebem os tremores. As que dão voltas
à Natureza e tanto despem frutos como árvores. Sabes?De todas as palavras que nunca
dizemos, estas são as que mais queremos dizer. As que têm um final feliz.
Sabes, não sabes?E, de repente, ganharam
vida os diálogos de primavera. Aqueles que dizem todas as palavras que se
guardaram no frio. As que desenrolam peões e andam à roda com as memórias. As
que contam os amores e bebem os tremores. As que dão voltas à Natureza e tanto
despem frutos como árvores. As que têm um final feliz. Sabes?
"I can't fight it anymore. I ran away from you once. I can't do it again. Oh, I don't know what's right any longer. You have to think for both of us. For all of us. All right, I will. Here's looking at you, kid. I wish I didn't love you so much."
* dos diálogos entre Ilsa/Ingrid Bergman e Rick/Humphrey Bogart em Casablanca.