sim, talvez queira tocar o piano dela, rápida e excessivamente, como quem entra pelos olhos e encontra a memória e lhe diz olá e anuncia a permanência. talvez queira correr até chegar a lado nenhum, talvez queira ser a marta arredonda a saia, marta que não escreve na tecla branca, na tecla preta como se fosse um piano, que quer soar a alice no país dos amores-perfeitos, mas não soa a mais do que o cinderela depois da meia-noite. alice no país dos amores-perfeitos, sim era isso mesmo, mas a perfeição não cresce, esmorece, descai e fica prostrada, à espera de letras novas que a reanimem, mas não há boca-a-boca que levante letra nascida morta, quanto mais uma respiração que apresse texto escrito sob dias e tardes e noites e madrugadas de malas por fazer, de poiso para escolher, como se a minha casa já não existisse. a minha casa existe e é o quarenta e nove, é a primeira casa amarela, é mil oitocentos e noventa, é o vitorino nemésio, é a morte, mas também a vida, é o tal jardim de flores de agosto, é o al berto lido sobre o telhado de vidro. é mais do que isso, é o tio lucena que desenho sozinha, é o avô césar no quintal, a construir para desculpar os dias desconstruídos, é a avó cândida a baloiçar na cadeira, a balançar cantigas e fadigas, ais e mais, é a minha mãe a contar-me a revolução, quem tinha medo comprava uma canção, o meu pai a bater-me à porta, nunca viu ele esta rua tão torta, e os risos conjuntos, quase em consonância, em redor da lembrança de sonhos de infância, de dança a três, era uma vez que pim pam pum, cada um não largou nenhum.