segunda-feira, 12 de novembro de 2007

history books forgot about us*


e o que elas me disseram eu guardo e semeio na epiderme da derme, e o que semeei cresce nos olhos, mas o que cresce nos olhos eu não consigo ver. eu não consigo ver, porque ouço mais do vejo e ouvi-a, ouvi-a a torcer o coração dela a um chão de distância, a sussurros vizinhos de músicas sem refrão. e eu não vi, porque ouvia o chocolate a azedar na boca de sonhos dela, no dia em que ela já não pôde gritar mãe! no dia em que ela quis desnascer, ir-se embora, sem ter de se ir embora. e eu não vi porque estava a ouvi-lo a estalar osso por osso, memória por memória, e o corpo dele a cair por terra, o ar a não encontrar a boca, a boca a não encontrar o alfabeto e o silêncio. a dor e o silêncio e a verdade ali estendida, à minha espera, à espera do meu grito e da minha pele a rasgar-se por ele. e eu não sabia mas estava cosida ao segredo e ao que os lábios encerram. elas não sabem, elas não sabem. elas despiam as castanhas e não sabiam, mas eu escrevi todas as ruas nessa noite. queimei os olhos e lambi as árvores à procura do sabor do bocejo de quem consegue dormir, despejei os sonhos no jardim de novembro e rompi as roupas de quem nunca gritou mãe!.

*[regina spektor, samson].