terça-feira, 3 de abril de 2018

fazer-me primavera.



E, de repente, ganharam vida os diálogos de primavera. Encontrei-os na última página de um inverno sem pó. Aquela onde só se guardam os dias sem truques e as promessas que dizem futuro. Os finais felizes que queremos sempre ler, sabes? Lembro-me bem. Foi mesmo antes de nascer o dia (e tudo o que com ele amanhecia). Escaparam das gavetas que abrimos contra a tirania do vento e em batalha com a chuva. A estratégia era clara: tinham os olhos bem assentes no céu e o tacto bem colado à pele.  Moviam-se na esperança de repetir tudo o que o corpo se lembra, sabes? Mas não foi por acaso que fugiram, os diálogos. Sim, porque até a primavera tem hora marcada no relógio. Mas não aquele que veste o sobressalto do pulso, não. É naquele que só trabalha ao som dos pássaros, sabes? De todas as horas que os ponteiros escrevem, esta é a que os diálogos de primavera esperam. É nela que dizem, entre si, todas as palavras que se guardaram no frio. As que viajam por terra e descobrem todos os segredos dos mapas. As que desenrolam peões e andam à roda com as memórias. As que contam os amores e bebem os tremores. As que dão voltas à Natureza e tanto despem frutos como árvores. Sabes?De todas as palavras que nunca dizemos, estas são as que mais queremos dizer. As que têm um final feliz. Sabes, não sabes?E, de repente, ganharam vida os diálogos de primavera. Aqueles que dizem todas as palavras que se guardaram no frio. As que desenrolam peões e andam à roda com as memórias. As que contam os amores e bebem os tremores. As que dão voltas à Natureza e tanto despem frutos como árvores. As que têm um final feliz. Sabes?