terça-feira, 3 de janeiro de 2006

querer[-te].


quero pintar o meu diário de reflexos - contornados a linhas douradas, de ouro de sonhos rendados, desenhar como a minha tia, de pincel de vida numa mão e poesia na outra -, quero escrever como o zé luís - com o coração e com a caneta a fazer estremecer o mundo interior, com a caneta a abanar os mundos e os fundos, este mundo e o outro, aquele que não conheço ou nunca pude conhecer, quero escrever palavras que não conheço e chegar ao fundo de mim, ao fundo dos outros -, quero tirar fotografias com a memória, quero fotografar como a francisquinha, quero fotografar com a francisquinha - com pormenores e pormaiores alternativos ao óbvio que não é bonito -, quero aprender a ver para além de, para lá de, para muito longe de!, quero abraçar a rejeição e rir-me dela, fazer-lhe trocas e baldrocas, confundi-la e dizer-lhe que não me apanhará mais num nevoeiro de inocência - sim, porque sou inocente, tu disseste que eu era inocente e por isso chorava, chorava muito e doía muito andar por aqui a fingir que não sou uma menina pequenina perdida num labirinto de jogos em que todos me lançam os dados. eu não quero jogar mais, não acredito na sorte, acredito na certeza. não quero guardar a felicidade em pequenos compartimentos, armazenar momentos felizes. não acredito. acredito na alegria longa. e sabes porquê? a alegria-fósforo faz explodir o coração-bomba e ninguém apanha os cacos senão eu. mas agora já não há cola que cole este coração.

[as palavras ardem, as palavras estão a arder. também tu arderás].

*fotografia de skye parrott.

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