quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

jeux d'enfants.



e amar assemelha-se, cada vez mais, a jogo sem regras ou de regras unilaterais. porque tu podes reivindicar a verdade sem consequência, eu tenho de carregar às costas o peso do depois.
eu ou tu. não eu e tu.
e é perder-te assim perdidamente. é seres eliminador de traços, é seres estilhaço e lâmina em mim, é não poder gritar-te senão dentro da pele, sob a epiderme, debaixo da coberta. é sentir-te a correr à flor da pele. é ser transparente e permeável aos olhos do mundo.
finita la comedia.
cap?
pas cap?

boneca de trapos.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

virgindade literária.


hoje é um dia de folhas virgens,
de carregar na ponta dos dedos a indecisão, as palavras sem letras.
de carregar na ponta dos dedos os cigarros fumados até meio, como se a própria vida fosse vivida até meio,
como se te conhecesse só até meio, como se metade fosse.
como se respirasse só até meio e não tivesse interior suficiente para inspirar o mundo em volta.
como se tudo fosse tão grande e eu fosse tão pequenina e me perdesse e não te encontrasse e não me encontrasses.
como se a minha pá não escavasse até ao mais fundo da terra e eu não agarrasse no tesouro,
como se entrasse na noite escura e não descobrisse o dia claro. escura que sou eu, claro que és tu.
porque afinal o mundo é fundo e largo e tem tesouros sob terra
como esse beijo sonoro que berra e diz que estás aqui
aqui tão perto, aqui não tão longe,
de braços prontos a fecharem-se à distância, olhos arregalados para a proximidade,
olhos secos de dia, olhos secos de noite, olhos de onde o mar foge e onde não pode simplesmente regressar.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

that fire was out of control.


quatro números separam o medo do fim.

uma porta separou o tudo do nada.
sem surpresas.
sem surpresas.
o quarenta e cinco, o quarenta e nove e vinte um anos de sobe e desce escadas.
acendeu-se o fogo e a certeza cinzenta ficou para lá morar.
a água não chega, o tempo demora-se, os gritos acordam, as vozes choram alto. o fogo queimou o silêncio. shhh. deixa a casa morrer em paz.
dias e noites e tardes de verãooutonoinvernoprimavera dentro de memórias em chamas, medo em chamas, lágrimas em chamas, vinte e um anos, quase vinte e dois de sobe e desce escadas das casas gémeas em chamas.
casas gémeas, rostos gémeos, recordações gémeas.
não respiro fundo porque a ausência é feita de cinza cinzenta feita de medo afogueado e pode entrar em mim, esquecer-se que quatro números depois está a minha vida.


acendeu-se o dia, apagou-se a luz.

[I'll take a quiet life, a handshake of carbon monoxide, with no alarms and no surprises, no alarms and no surprises, no alarms and no surprises, silent silence.
such a pretty house and such a pretty garden. no alarms and no surprises, (get me out of here)no alarms and no surprises, (get me out of here) no alarms and no surprises (get me out of here) please].

radiohead.