segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

virgindade literária.


hoje é um dia de folhas virgens,
de carregar na ponta dos dedos a indecisão, as palavras sem letras.
de carregar na ponta dos dedos os cigarros fumados até meio, como se a própria vida fosse vivida até meio,
como se te conhecesse só até meio, como se metade fosse.
como se respirasse só até meio e não tivesse interior suficiente para inspirar o mundo em volta.
como se tudo fosse tão grande e eu fosse tão pequenina e me perdesse e não te encontrasse e não me encontrasses.
como se a minha pá não escavasse até ao mais fundo da terra e eu não agarrasse no tesouro,
como se entrasse na noite escura e não descobrisse o dia claro. escura que sou eu, claro que és tu.
porque afinal o mundo é fundo e largo e tem tesouros sob terra
como esse beijo sonoro que berra e diz que estás aqui
aqui tão perto, aqui não tão longe,
de braços prontos a fecharem-se à distância, olhos arregalados para a proximidade,
olhos secos de dia, olhos secos de noite, olhos de onde o mar foge e onde não pode simplesmente regressar.

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