segunda-feira, 30 de abril de 2012

o país a quem roubaram a noite.



Neste país, em que já habitaram batalhas,
sobrevivem a ausência e a memória que a derrota convocou.

Depois das guerras dançadas em valsa lenta,
resiste, agora, a paralisia das horas.

Nos pés de quem nele sobrevive
- onde outrora se caminharam vitórias –
 inscreve-se uma paz descalça,
e a pele
– que outrora cobriu majestades –
usa mantos onde se confundem corpos com presenças.

Neste país, em que se improvisam hierarquias,
falta a noite para adormecer os medos.

Conta-se que
às árvores de fruto roubaram as raízes
e aos pássaros, a capacidade de voar.

Neste país a quem deixaram, apenas, o dia,     
todos as janelas dão para abandonos
e todas as mãos procuram, num desvio directo ao coração, agarrar futuros.

Aqui, neste país entre o céu e a terra,
escrevem-se linhas rectas em direcção ao que se pretende eterno,
adivinham-se sonhos,
vestem-se asas ,
mas os impérios, esses, estão apenas ao alcance dos olhos.


* poema para catálogo da exposição como se não fosse daqui, da pintora Helena Magalhães.



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