Neste país, em que já habitaram batalhas,
sobrevivem a ausência e a memória que a derrota convocou.
Depois das guerras dançadas em valsa lenta,
resiste, agora, a paralisia das horas.
Nos pés de quem nele sobrevive
- onde outrora se caminharam vitórias –
inscreve-se uma paz descalça,
e a pele
– que outrora cobriu majestades –
usa mantos onde se confundem corpos com presenças.
Neste país, em que se improvisam hierarquias,
falta a noite para adormecer os medos.
Conta-se que
às árvores de fruto roubaram as raízes
e aos pássaros, a capacidade de voar.
Neste país a quem deixaram, apenas, o dia,
todos as janelas dão para abandonos
e todas as mãos procuram, num desvio directo
ao coração, agarrar futuros.
Aqui, neste país entre o céu e a terra,
escrevem-se linhas rectas em direcção ao que se pretende eterno,
adivinham-se sonhos,
vestem-se asas ,
mas os impérios, esses, estão apenas ao alcance dos olhos.
* poema para catálogo da exposição como se não fosse daqui, da pintora Helena Magalhães.
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