O vinte.
Lembro-me como se fosse hoje: o sol a entrar sem pedir licença e a desenhar um estrado de luz. Na altura, com uma gata em fase terminal nos braços, pensei que seria assim que gostaria de me despedir: sobre um estrado de luz. Entrei. A Dina, amor de água fresca, acabou por partir, mas ficar em cada canto desta casa que não é só uma casa. Afinal, aqui escondia-se o meu propósito: neles, na terra, neles. Sempre eles. A anunciarem as manhãs, a obrigarem-me a pôr o pé no mundo, a serem lição infinita, perene, essencial. Deles, alguns entraram. A Stevie, um desses amores, acabaria também por partir — e ficar. Lembro-me como se fosse hoje: quando entrei, sabia que também eu partiria — de outra forma, mas também da outra, ou não fosse uma despedida um luto — e ficaria. E por mais que a ganância vença, ela nunca saberá o que é entrar, partir, ficar. Nunca. E só isso é motivo para continuar. Adeus, número 20. E obrigada.


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