A Stevie.

Stevie, de Wonder, de maravilha anunciada a cada dia que não era suposto viver, resistiu e amoleceu, como quem foi à luta só para, depois, sentir o sabor da reconciliação. Guardou uma série de nomes — Stevie, Stewie, Stebes, Ti, Titi, Tinha, Titinha, Ursinho, Vampirinha —, por nela caberem tantas vidas soletradas. Quisemos dar-lhe um último dia de sol, sem saber que anoiteceria com a madrugada; esperámos pelo tempo suspenso, mas não houve segundo que não sentíssemos na pele. 

Nos últimos dias, têm-me dito, por outras palavras (ou até por estas), que sinto demais, que penso demais, que sou pesada, amarga, triste, confusa, poema que não rima. Que devia ser mais leve, evitar cruzadas destas, pairar no ar como tantos. Não sei que lhes diga, mas sei o que lhes garanto: jamais darei esse sabor à existência, se ele não me der o travo de vidas como as da Stevie. 

Dirão que é exagero — não és mãe, não é uma filha —, como sempre. E eu responderei, pensativa, pesada, amarga, triste: sou, sim; era, sim; será, sim. Para sempre.


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